O Banco do Nordeste (BNB) aplicou R$ 40 bilhões nos cerrados nordestinos no período de 2010 a 2021, por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Rural do Nordeste (FNE Rural). Os dados são de recente avaliação realizada pelo Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), segundo a qual os recursos impulsionaram destacadamente a produtividade de culturas como soja, milho e algodão, além da bovinocultura.
Dentre os municípios atendidos pelo BNB no Nordeste e parte de Minas Gerais e Espírito Santo, os estados do Maranhão, Bahia e Piauí contêm áreas de cerrados, somando cerca de 45 milhões de hectares em 198 municípios, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2021).
A avaliação elaborada pelo Etene aponta crescimento da produção de soja nesses territórios, com financiamentos totais de R$ 20 bilhões no período estudado, seguido das culturas de algodão (R$ 8,1 bilhões), bovinocultura (R$ 5,8 bilhões), milho (R$ 3,8 bilhões) e outras atividades (R$ 2,2 bilhões).
Segundo a autora da pesquisa, Maria Odete Alves, a absorção de um maior montante de recursos pelos cerrados nordestinos, cerca de 61% do total concedido pelo Banco por meio do programa, justifica-se pelo potencial produtivo da agropecuária no território. “O FNE Rural é o principal instrumento público de crédito para o setor agropecuário nesses territórios e tem funcionado como um importante indutor de investimentos produtivos com inovações tecnológicas, cujos impactos têm sido positivos em termos de produtividade e de alcance do mercado mundial”, explica a pesquisadora, que é doutora em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).
“Por outro lado, é necessário atentar para a crescente preocupação internacional com as questões climáticas. Cada vez mais as cadeias globais exigirão práticas de produção sustentáveis, o que não é diferente quando se trata da produção nos cerrados nordestinos”, avalia a autora.
Como resultado dos investimentos, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) registrou, ao final do período pesquisado, alta de 122% na produção de soja nos cerrados do Nordeste, com total de 13,8 milhões de toneladas produzidas, e aumento de 96% da área plantada, resultando em 3,8 milhões de hectares, no ano safra 2021/2022, se comparado ao ano safra 2010/2011. O incremento produtivo revela o impacto positivo do crédito para fortalecimento, ampliação e modernização da infraestrutura produtiva dos estabelecimentos agropecuários, como enfatiza Maria Odete Alves.
O gerente da Célula de Avaliação de Políticas e Programas do Etene, Airton Saboya, ressalta que políticas que estimulem práticas de produção sustentáveis, bem como a manutenção e o fortalecimento das populações tradicionais, são essenciais para o desenvolvimento adequado do bioma Cerrado.
FNE Rural
O FNE Rural, criado em 1998 pelo Banco do Nordeste, alcança todos os 2.074 municípios da área de atuação da instituição financeira, tendo como fonte de recursos o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) e, por isso, opera com condições diferenciadas de crédito.
Podem ser financiadas atividades produtivas de todos os portes, com investimentos destinados à construção, reforma e ampliação de benfeitorias e instalações permanentes, correção de solo, e ainda para aquisição de máquinas, implementos e equipamentos, como tratores, colheitadeiras, veículos, embarcações e aeronave para pulverização agrícola, dentre outros. O prazo para pagamento dos financiamentos é de até 20 anos.
Foto: divulgação/Banco do Nordeste