Endividamento das Famílias: O Que os Números Não Mostram! – Por Thiago Lira

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A recente Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) revela um cenário econômico preocupante, mas com nuances que merecem uma análise mais detalhada. O percentual de famílias endividadas caiu levemente em julho, mas ainda se mantém em um patamar elevado, refletindo a cautela dos consumidores diante de um ambiente econômico de incertezas. O fato de menos pessoas se considerarem “muito endividadas” pode ser visto como um indicador positivo, mas a redução no percentual de famílias com dívidas em atraso foi mínima, o que sugere que a inadimplência ainda é uma ameaça significativa para a estabilidade financeira das famílias brasileiras.

O dado mais alarmante é o aumento no percentual de famílias que comprometeram mais da metade de sua renda com dívidas, mesmo com uma leve redução em julho. Esse fenômeno é preocupante, pois reflete a dificuldade de muitos em administrar suas finanças em um cenário de juros altos e inflação ainda pressionada. A busca por prazos mais longos para o pagamento das dívidas, indica que as famílias estão buscando formas de alongar seus compromissos para caber no orçamento, mas essa estratégia pode ser arriscada em um contexto juros altos.

Outro ponto de atenção é o crescimento da participação do financiamento imobiliário, que, embora demonstre um maior acesso à casa própria, também pode sinalizar um endividamento de longo prazo que precisa ser cuidadosamente monitorado. Por outro lado, a queda na representatividade dos cartões de crédito e carnês sugere uma mudança no comportamento de consumo, talvez impulsionada pela conscientização dos riscos associados a essas modalidades de crédito.

Resumindo, o cenário de endividamento das famílias brasileiras, embora mostre alguns sinais de estabilização, ainda requer atenção. A cautela das famílias em assumir novas dívidas é um reflexo da realidade econômica difícil, mas a elevada participação de compromissos de longo prazo no orçamento familiar aponta para a necessidade de políticas públicas que auxiliem na educação financeira e no acesso a crédito de forma mais responsável. A manutenção da inadimplência em níveis elevados é um lembrete de que a recuperação econômica, para ser efetiva, deve ser acompanhada de uma gestão cuidadosa das finanças pessoais.

Por Thiago Lira | @thiagoliracabral25

Economista e especialista em Análise de Dados

 

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